Os Manuscritos do Theo #02

Hoje o sol estava especialmente quente, mas nada que atrapalhasse nosso treinamento pra valer. Mas, na hora da refeição, notei que alguns outros soldados olhavam de cara feia para mim. Acho que também eram soldados beta, mas não pareciam quere fazer amizades. O alimento era apenas uma sopa e pedaços de pães. Lembrei dos pães da mamãe, ela adorava testar novas receitas para mim. Sei que um Cavaleiro precisa ser forte e dominar seus sentimentos, a senhora Marin sempre falou isso para mim, mas confesso que senti muita saudade. A comida dela era a melhor do mundo. Mas nossa história não acabou muito bem... nossa e de todos na vila de Ia.

Não sei que fim isso vai dar, mas acho que seria bom eu registrar essa história aqui nos meus manuscritos. Tudo começou alguns anos atrás em uma vila perto das montanhas onde fica o Santuário. Ia, era um lugar bom onde eu e minha mãe vivíamos; nunca conheci meu pai, acho que ele não aguentou o peso de cuidar de uma família e se perdeu no mundo. Minha mãe não se acovardou e encarou essa missão que para ela sempre foi uma missão muito honrosa. E sozinha me criou. Ia era aquele tipo de vila que toda pessoa simples queria morar, tinha crianças correndo para todos os cantos, ídosos na rua fazendo crochê ou jogando algum tipo de jogo de tabuleiro. E vendedores, sempre procurando aumentar suas vendas.

Certo dia, a mamãe estava varrendo a casa, como sempre, quando eu ouvir o barulho da vassoura cair no chão. Ela havia passado muito mal. O médico chegou e ela já estava na cama. Foram duas semanas difíceis até que os olhos dela se fecharam para mim. Pode imaginar como que eu fiquei? Se não passou pelo que eu passei, acho que não... mas apesar de tudo, acho que foi melhor assim, porque as coisas sempre podem piorar. E minha mamãe não teve que passar pelo que mal que estava por vir.

O dia nem havia clareado o céu direito e os meus olhos nem haviam desinchados devido ao choro e gritos espalhafatosos dominavam as ruas, saí de casa e me deparei com pessoas correndo e caindo pelo chão. Foram momentos perturbadores, não sabia o que estava acontecendo. Mas essa ignorância durou pouco. No final de uma das ruas principais havia algo que eu nunca vou me esquecer. A criatura era grande e parecia devorar todos com o olhar; andava pela vila destruindo tudo. E, para piorar, outras começaram a surgir fazendo a mesma coisa.

A vila se tornou um caos. E poucos minutos depois dos gritos, corpos e pessoas correndo se misturavam para todos os lados. Cheguei a pensar que era o meu fim, mas uma coisa que mudaria tudo aconteceu. Três mulheres trajando armaduras e mascaradas apareceram e sem medo enfrentaram as criaturas. Me lembro do barulho, e apesar de estar escondido embaixo de uma carroça de cabeça para baixo, acompanhei alguns movimentos.

A batalha não durou muito tempo e aquelas mulheres não apreciam seres humanos, elas lutavam como deusas, algo que eu nunca tinha presenciado antes. Quando os gritos haviam cessado, senti que alguém se aproximava. A bota era prateada e parou de frente para mim, levantou a carroça sem muito esforço e me encontrou. Abri os olhos e olhei para ela; estava mascarada, mas mesmo por algum motivo não tive medo. O cabelo era ruivo e o tom de pele era claro. A carroça já estava do outro lado no chão; olhei para ela novamente. E me lembro da primeira vez que ouvi aquela voz feminina que disse: - “Você está bem?”.

Aquela havia sido a primeira vez que vi a senhora Marin, salvando minha vida. Ela me conquistou. Havia mais duas guerreiras. Era a senhora Shina e a senhora Naila; todas Amazonas do Santuário. Mas não foi só isso que me chamou a atenção. Ia estava destruída, a vila que eu havia crescido não existia mais. Me lembro de ter ficado revoltado com aquela situação e da senhora Marin ter me acalmado. Ela havia dito que os sobreviventes reconstruiriam a vila. E que se eu quisesse impedir que coisas como aquela não acontecesse mais que eu fosse com ela para um lugar onde os guerreiros são formados para lutar contra aquele tipo de mal. Lembro de ter olhado para Ia e jurado que eu iria me tornar um grande guerreiro para que aquilo não acontecesse nunca mais. E, assim como minha mãe me ensinou, mostrar para todos que o bem sempre vai vencer o mal.

Dei as costas para Ia, enquanto os poucos que sobreviveram começava a se recuperar, toquei a mão da senhora Marin e vim para cá, me tornar um grande guerreiro e entrar para o exército de Atena...

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